Karate, capoeira e MMA: uma perspectiva fenomenológica do processo de começar a lutar
DOI:
https://doi.org/10.18002/rama.v13i2.5119Palavras-chave:
Esportes de combate, artes marciais, fenomenologia, karate, capoeira, MMAEntidades:
FAPESPResumo
Nas ciências do esporte, pesquisas com foco em esportes de combate têm sido crescentes, mas ainda são poucos os estudos com relação à experiência de se começar uma luta. Para que este processo seja compreendido, esta pesquisa tem seu foco em investigar e descrevê-lo através de uma perspectiva comparativa e fenomenológica em praticantes brasileiros de karate, capoeira e artes marciais mistas (MMA) (n = 11, 7, 11, respectivamente). Entrevistas semiestruturadas foram realizadas e contou-se com uma análise de cunho fenomenológico. A maioria dos karatekas descreveu o ajuste da distância e o cumprimento ao oponente como marcadores do início do combate. Já os capoeiristas ressaltaram o som da música e a roda, se referindo ao modo como eles se organizam para lutar, em que todos participam. Atletas de MMA comumente descreveram o início da luta quando começam o camp, a partir da pesagem ou da entrada no octógono. Com base na fenomenologia de Merleau-Ponty, pontua-se que o processo de iniciar uma luta pode ser entendido pela relação entre consciência corpórea e mundo. Os achados neste trabalho convergem para uma compreensão fenomenológica, segundo a qual ações não são entendidas como algo executado aleatoriamente: elas são pré-reflexivamente e corporalmente entendidas e realizadas, bem como situadas em um contexto específico; isto é ilustrado no modo como a luta em cada uma das modalidades tem início de formas diferentes. Estes resultados nos auxiliam a compreender o começo da luta de maneira em que corpo e mundo estão constantemente entrelaçados. Direções futuras incluem a compreensão da experiência de lutar como um todo, entendendo percepção e movimento destes lutadores ao longo de todo o combate, fortalecendo os estudos em fenomenologia e experiências corporais.
Downloads
Métricas alternativas
Referências
Allen-Collinson, J. (2009). Sporting embodiment: sports studies and the (continuing) promise of phenomenology. Qualitative research in sport and exercise. 1(3), 279-296. doi: http://doi.org/10.1080/19398440903192340
Andrieu, B. (2017). Apprendre de son corps: une méthode émersive au CNAC. Rouen: Presses Universitaires de Rouen et du Havre.
Awi, F. (2012). Filho teu não foge à luta: como os lutadores brasileiros transformaram o MMA em um fenômeno mundial. Rio de Janeiro: Intrínseca.
Barbaras, R. (2008). Motricité et phénoménalité chez le dernier Merleau-Ponty. In E. Saint-Aubert, E. (org.), Maurice Merleau-Ponty (pp. 27-42). Paris: Hermann Éditeurs.
Barreira, C. R. A. (2006). A alteridade subtraída: o outro no esvaziamento do karate e na redução fenomenológica. Mnemosine, 2(2), 106-118.
Barreira, C. R. A. (2013). O sentido do karate-do: faces históricas, psicológicas e fenomenológicas. Rio de Janeiro: E-papers.
Barreira, C. R. A. (2014). Combate, uma arqueologia fenomenológica: da arte marcial ao MMA sob uma nova perspectiva em psicologia do esporte (Doctoral Dissertation). Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, São Paulo.
Barreira, C. R. A. (2017b). A norma sensível à prova da violência: o corpo a corpo em disputa sob a ótica fenomenológica em psicologia do esporte. Revista da Abordagem Gestáltica, 23 (3), 278-292.
Barreira, C. R. A. (2017c). Análise fenomenológica aplicada à psicologia: recursos operacionais para a pesquisa empírica. In M. Mahfoud & J. Savian Filho, Diálogos com Edith Stein: filosofia, psicologia, educação (pp. 317-368). São Paulo: Paulos.
Barreira, C.R.A. (2017a). The essences of martial arts and corporal fighting: a classical phenomenological analysis. Archives of Budo, 13, 351-376.
Bassetti, V,. Telles, T. C. B., & Barreira, C. R. A. (2016). Toward a psychology of Jiujitsu: phenomenological analysis of the ways to combat in practitioner's experience. Revista de Artes Marciales Asiáticas, 11(2s), 86-87. doi: http://dx.doi.org/10.18002/rama.v11i2s.4185
Channon, A., & Jennings, G. (2014) Exploring embodiment through martial arts and combat sports: a review of empirical research. Sport in Society, 17(6), 773-789, doi: http://dx.doi.org/10.1080/17430437.2014.882906
Cheever, N. (2009). The uses and gratifications of viewing mixed martial arts. Journal of Sport Media, 4(1), 25-53. doi: http://dx.doi.org/10.1353/jsm.0.0028
Correio, L., Bortoleto, M. A., & Paoliello, E. (2012). Competições de capoeira: apontamentos preliminares sobre os jogos regionais realizados pela FECAESP e pela Abadá-capoeira no estado de São Paulo. Pensar a prática (Goiânia), 15(2), 364-379. doi: http://doi.org/10.5216/rpp.v15i2.13351
Csordas, T. (1993). Somatic Modes of Atttention. Cultural Anthropology, 8(2), 135-156.
Curran, J. (2018). Olympic MMA would add to growth of all combat sport, national leaders agree. International MMA Federation (IMMAF). Retrieved from http://www.immaf.org/olympic-mma-would-add-to-growth-of-all-combat-sports-national-leaders-agree/
Downey, G. (2002). Phenomenology, Embodiment, and the Materiality of Music. Ethnomusicology, 46(3), 487-509.
Downey, G. (2005) Learning Capoeira: lessons in cunning from an Afro-Brazilian art. Oxford: Oxford University Press.
Downey, G. (2006). The information economy in no holds barred fighting. In M. S. Fisher & G. Downey (eds.), Frontiers of capital: ethnographic perspectives on the new economy (pp. 108-132). Durham, NC: Duke University Press.
Downey, G. (2007). Seeing with a 'sideways glance': visuomotor 'knowing' and the plasticity of perception. In M. Harris (ed.), Ways of knowing: anthropological approaches to crafting experience and knowledge (pp. 222-244). New York: Berghahn.
Figueiredo, A. (2009). The object of study in martial arts and combat sports research-Contributions to a complex whole. In W. Cynarski (Ed.), Martial Arts and Combat Sports - Humanistic Outlook (pp. 20-34). Rzeszów: Wydawnictwo Uniwersytetu Rzeszowskiego.
Funakoshi, G., & Nakasone, G. (2005). Os vinte princípios fundamentais do karate: o legado espiritual do mestre. São Paulo: Cultrix.
Gallagher, S. (2005). How the body shapes the mind. Oxford: Oxford University Press.
Halák, J., Jirásek, I., & Nesti, M. (2014). Phenomenology is not phenomenalism Is there such thing as phenomenology of sport? ActaGymnica, 44(2), 117-129. doi: http://doi.org/10.5507/ag.2014.012
Hockey, J., & Allen-Collinson, J. (2007). Grasping the phenomenology of sporting bodies. International Review for the Sociology of Sport, 42(2), 115-131. doi: http://doi.org/10.1177/1012690207084747
Hogeveen, B. (2011). Skilled coping and sport: promises of phenomenology. Sports, ethics and philosophy, 5(3), 245-255. doi: http://doi.org/10.1080/17511321.2011.602575
Holthuysen, J. (2011). Embattled identitites: constructions of contemporary American masculinity amongst Mixed Martial Arts cagefighters. Doctoral Dissertation. Arizona State University.
Husserl, E. (1931). Ideas: general introduction to pure phenomenology. New York: MacMillan.
Jensen, P., Roman, J., Shaft, B., & Wrisberg, C. (2013). In the Cage: MMA Fighters’ Experience of Competition. The Sport Psychologist, 27(1), 1-12. doi: http://doi.org/10.1123/tsp.27.1.1
McLeod, J. (2011). Qualitative research in counseling and psychotherapy. London: Sage Publications
McNarry, G., Allen-Collinson, J. & Evans, A. B. (2018) Reflexivity and bracketing in sociological phenomenological research: researching the competitive swimming lifeworld. Qualitative Research on Sport, Exercise and Health, doi: http://doi.org/10.1080/2159676X.2018.1506498
Merleau-Ponty, M. (2000). A fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes (Original publication in 1945).
Merleau-Ponty, M. (2011). Le monde sensible et le monde d’expression (Cours au Collège de France – notes, 1953). Genebra: Métis Presses.
Pérez-Gutiérrez, M., Gutiérrez-García, C., & Escobar-Molina, R. (2011). Terminological recommendations for improving the visibility of scientific literature on martial arts and combat sports. Archives of Budo, 7(3), 159-166.
Queval, I. (2008). Le corps aujourd’hui. France: Éditions Gallimard.
Rego, W. (1968). Capoeira Angola: ensaio sócio-etnográfico. Rio de Janeiro: Companhia Gráfica LUX.
Reid, H., & Croucher, M. (1983). O caminho do guerreiro: o paradoxo das artes marciais. São Paulo: Cultrix.
Sánchez Garcia, R. & Malcolm, D. (2010) Decivilizing, civilizing or informalizing? The international development of Mixed Martial Arts. International Review of the Sociology of Sport, 45(1), 39-58. doi: http://doi.org/10.1177/1012690209352392
Santos, C. A., Tainsky, S., Schmidt, K. A., & Shim, C. (2013). Framing the Octagon: An Analysis of News-Media Coverage of Mixed Martial Arts. International Journal of Sport Communication, 6(1), 66-86. doi: http://doi.org/10.1123/ijsc.6.1.66
Smith, J. (2005). Merleau-Ponty and the phenomenological reduction. Inquiry: An Interdisciplinary Journal of Philosophy. 48(6), 553-571. doi: http://doi.org/10.1080/00201740500321227
Spencer, D. (2009). Habit(us), Body Techniques and Body Callusing: An Ethnography of Mixed Martial Arts. Body & Society, 15(4), 119-143. doi: http://doi.org/10.1177/1357034X09347224
Stelter, R. (2000). The transformation of body experience into language. Journal of Phenomenological Psychology, 31(1), 63-77. doi: http://doi.org/10.1163/156916200746256
Telles, T. C. B. & Barreira, C. R. A. (2016). Starting a fight: a phenomenological and comparative study among karate, capoeira and MMA athletes. Revista de Artes Marciales Asiáticas. 11(2s), 84-85. doi: http://doi.org/10.18002/rama.v11i2s.4184
Telles, T. C. B. & Barreira, C. R. A. (2017). How the body moves: understanding movement in sport and exercise through a phenomenological perspective. In ISSP 14th world congress, 2017, Sevilla. Sport psychology: linking theory to practice. p. 270.
Telles, T. C. B. (2013). Contribuições da psicologia do esporte na preparação de atletas de MMA de alto rendimento. In J. Cozac (org.), Atleta e ser humano em ação (pp. 169-176). São Paulo: Roca.
UNESCO (2014). Capoeira becomes Intangible Cultural Heritage of Humanity. Retrieved from http://www.unesco.org/new/en/brasilia/about-this-office/single-view/news/capoeira_becomes_intangible_cultural_heritage_of_humanity
Vaittinen, A. M. (2017). Mixed martial arts coaches and sensory pedagogies. In A.C. Sparkes (ed.), Seeing the senses in Physical Culture: sensuous scholarship in action (pp. 157-173). London: Routledge.
Valério, P. H. & Barreira, C. R. A. (2016b). A roda de capoeira: uma vivência comunitária. Memorandum, 30, 177-198.
Valério, P. H., & Barreira, C. R. A. (2016a). O sentido vivido da capoeira: cumplicidade, risco, autenticidade e criatividade. Revista Brasileira de Psicologia do Esporte, 6(1), 88-108. doi:
van Bottenburg, M., & Heilbron, J. (2006). De-sportization of fighting contests: the origins and dynamics of No Holds Barred events and the theory of sportization. International review for the sociology of sport, 41(3–4), 259–282. doi: http://doi.org/10.1177/1012690207078043
van Bottenburg, M., & Heilbron, J. (2010). Informalization or de-sportization of fighting contests? A rejoinder to Raúl Sánchez García and Dominic Malcolm. International Review for the Sociology of Sport, 46(1), 125-127. doi: http://doi.org/10.1177/1012690210378272
Vidor, E. & Reis, L. (2013). Capoeira: uma herança cultural afro-brasileira. São Paulo: Selo Negro.
Wacquant, L. (1989). Corps et âme: Notes ethnographiques d'un apprenti-boxeur. Actes de la Recherche en Sciences Sociales, 80, 33-67.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Secção
Licença
Direitos de Autor (c) 2018 Thabata Castelo Branco Telles, Anu Maarit Vaittinen & Cristiano Roque Antunes Barreira
Este trabalho encontra-se publicado com a Licença Internacional Creative Commons Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0.
Os autores que publicam nesta Revista estão de acordo com os seguintes termos:
- Os autores cedem, de forma exclusiva, os direitos de exploração (reprodução, distribuição, comunicação pública, transformação) à Universidade de Léon, podendo estabelecer, em separado, acordos adicionais para a distribuição não exclusiva da versão do artigo publicado na Revista (por exemplo: alojar no repertório institucional ou publicá-lo num livro), com o reconhecimento da publicação inicial nesta Revista.
- O trabalho encontra-se na Creative Commons Attribution-Non Commercial-Share Alike 4.0 International License. Pode-se consultar aqui o resumo e o texto legal da licença.
- Permite-se, e sugere-se, que os autores difundam electronicamente as versões pré-impressão (versão antes de ser avaliada) e pós-impressão (versão avaliada e aceite para publicação das suas obras antes da sua publicação), favorecendo a sua circulação e difusão, e com ela o possível aumento da sua citação e alcance pela comunidade académica.
