Análise das práticas religiosas e das artes marciais japonesas a partir da sociologia processual
DOI:
https://doi.org/10.18002/rama.v18i1.7479Palavras-chave:
Práticas religiosas, artes marciais, Norbert Elias, habitus, processos civilizatóriosEntidades:
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Este artigo usa fontes primárias e secundárias para fornecer uma análise sociológica processual da relação entre práticas religiosas e artes marciais japonesas. Problematiza o papel dado como certo do budismo zen, como a única influência no desenvolvimento das artes marciais japonesas. Tal conexão, essencial, é imprecisa e anacrónica. As práticas religiosas e marciais se desenvolveram como parte de processos de sociogénese (formação do estado) e psicogénese (habitus) durante três fases principais diferentes: (1) Japão Medieval (1185-1600): durante esta fase, os guerreiros (bushi) tornaram-se progressivamente os governantes predominantes em todo o país, aplicando a lei pela força das armas. Os guerreiros experientes em combate usavam práticas esotéricas (feitiços, rituais mágicos) como parte de seu arsenal psicológico para a guerra, como meios práticos de ação. O culto da divindade budista Marishiten detinha um interesse especial para o bushi originário das tradições marciais (ryu). (2) Xogunato Tokugawa (1600-1848): a pacificação do país pela corte militar central implicou uma abordagem mais distanciada das artes marciais pelos samurais. Nesse meio, o samurai agia como um reserva/burocrata, cuja principal missão era manter a ordem em uma sociedade estratificada e servir ao seu senhor, algo que as práticas zen ajudaram a incorporar ao espírito samurai. (3) Início do período Showa (1926-1945): esta fase caracterizou-se por uma progressiva militarização do povo e pela instigação de um forte envolvimento para com a nação japonesa, considerada como a principal unidade (simbólica) de sobrevivência. O budo (artes marciais) estava conectado ao shinto (funcionando como uma 'religião do estado') e incorporava a mensagem imperial do bushido. O zen fornecia uma legitimação da violência para cidadãos-soldados com uma estrutura de personalidade que apresentava dúvidas sobre matar alguém e medo de ser morto.
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